4 de novembro de 2018

UM ARTISTA DE LESTE EM FAFE







In memoriam


Mykola Solovyov nasceu na extinta União Soviética a 16 de Janeiro de 1969. Emigrante Ucraniano está em Portugal desde Fevereiro de 2002. Escolheu Fafe como sua Terra de adopção e reside no lugar de Santo Ovídio. Nicolai, nome pelo qual é mais conhecido, trabalha há mais de cinco anos no ramo da transformação de madeiras.
O seu gosto pela arte da pintura leva-o a produzir trabalhos que transparecem uma mescla das Culturas de Leste e Portuguesa.


Mykola Solovyov é filho de militar e farmacêutica. Após completar o ensino obrigatório, frequentou um curso profissional de 3 anos na área da marcenaria. Aos 18 anos integrou o exército Soviético, cumprindo dois anos de serviço militar obrigatório, em grande parte, passados no teatro das operações da guerra do Afganistão.
Em 1991 a União Soviética é dividida e Mykola viu-se integrado na Ucrânia, como país independente.
Na sua terra, “Nicolai” trabalhou como decorador de interiores e foi também vendedor de produtos alimentares.
Insatisfeito com a difícil situação política e económica do seu país, decidiu emigrar.
Após uma curta passagem pela Figueira da Foz, em Abril de 2002 “Nicolai” chega a Fafe, mais concretamente ao lugar de Santo Ovídio, onde encontrou pessoas amigas que souberam dar-lhe o apoio que tanto necessitava.
Rapidamente este Ucraniano com porte de “Steven Seagal” integrou a comunidade santo ovidense  e com a mesma facilidade dominou a nossa língua.
Após trabalhar em diversas empresas locais, foi admitido nas “Madeiras de Santo Ovídio”, onde trabalha há cerca de 5 anos.
Apelando à sua formação em marcenaria “Nicolai” começou por produzir quadros manualmente gravados em madeira, com os emblemas dos principais clubes nacionais de futebol.
Associou-se ao grupo ARCO e aí fez escola na concepção de “cabeçudos” para as festas populares.
“Nicolai” percebeu que podia ir mais longe e começou a pintar telas a óleo que integraram diversas mostras; na Casa Municipal de Cultura de Fafe, na galeria do Café H7, no Café Águias de Ouro em Bouças, no Café Óscar em Guimarães e ainda viu os seu trabalho exposto em festas de Santo Ovídio organizadas pela Associação ARCO.
“Nicolai” é ainda um apaixonado pela música, toca viola clássica e não raras vezes afina as suas cordas vocais animando tertúlias, interpretando com nostalgia, canções da terra longínqua que um dia o viu partir.
Durante 4 longos anos passou a grande provação de estar longe dos seus filhos; Elvira de 9 anos e Ruslan com 18 anos.
A burocracia portuguesa não se compadece com sentimentalismos e os “papéis” só apareceram em 2006, após muito esforço e dispêndio de dinheiro que escasseava.
Homem respeitado por todos, amigo do amigo, benfiquista por razão, grande lutador pelo seu ideal de um dia proporcionar melhores condições de vida à sua família, O meu amigo “Nicolai” é um exemplo de saber estar em país alheio, um artista que consegue conciliar a dureza da serração com a subtileza do pincel. É ainda uma boa referência para a pequena comunidade de Leste residente em Fafe.

Publicado no extinto jornal "Correio de Fafe", 2009

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