EM 21 DE JULHO DE 1907
O relato da chegada
«Como é bom recordar! Parece
que foi hontem e já lá vão três annos! Transcrevemos para aqui parte do que
sobre tão grato motivo dissemos no nº 749 do Desforço de 1907; serve mesmo para
explicação das gravuras que vão juntas:»
A CHEGADA
«Aos primeiros silvos das locomotivas, tudo
rejubila. São duas, conjugadas, que se denominam «Porto» nº 5 e «Negrellos» nº
2, a rebocarem 17 vehiculos. Ao apparecimento, na ultima curva, quando os
silvos redobram e o penacho de fumo se torna mais intenso, a alegria é então
dilerante, chega ao seu auge o contentamento!
E’ uma hora e 20 minutos quando o comboio
entra nas agulhas da estação por entre filas de povo. O enthusiasmo, a esta
hora feliz para Fafe, é indescritível!
Aquelle acenar de lenços, aquella animação,
aquella vivacidade, aquellasacclamações, tudo aquillo que se não pôde anotar,
oh! Era sublime!!
Sublime, sim!!
Nós, que fomos uns pugnadores do caminho de
ferro para Fafe, que temos anciado para o nosso torrão natal esse melhoramento
indispensável, ao ver chegar o comboio inaugural, fomos apossados de tanta
alegria, que quasi se nos estonteia o espírito! Ah! É que víamos triumphar uma
das nossa maiores aspirações!
E as bandas fazendo ouvir os seus sons
musicais, vibrantes, pareciam exprimir o que nos ia n’alma; o dynamite,
estralejando nos ares, annunciou ao longe o nosso enorme contentamento.
No comboio inaugural vinha um grande numero
de convidados, de que os jornaes diários teem dado nota e que por isso achamos
supérfluo aqui reproduzir.
As locomotivas chegaram adornadas com
bandeiras e tropheus, a gosto.
A da vanguarda, a nº 5, trazia a dirigi-la o
engenheiro sr. Francisco Ferreira de Lima, que trajava de machinista, e o chefe
de tracção e officinas sr. Joaquim Lopes.
Acompanhava o comboio uma banda de musica.
Na cauda vinha uma carruagem-salão, em que
tomaram logar, alem do pessoal superior da Companhia e outros cavalheiros, a
commissão das festas, que daqui foi a Paçô fazer a espera.
Ao apeiaren-se, o sr. Conselheiro Florencio
Monteiro foi o que iniciou os vivas, que proseguiram, correspondidos sempre com
ardor.
Em seguida, no estrado, onde permanecia a
câmara, depois de trocados muitos cumprimentos, discursa o director da
Companhia sr. Reis Porto, que, fazendo o elogio da nossa terra declara aberta á
exploração a linha férrea.
Termina por levantar vivas a Fafe e ao seu
povo.
Seguiu-se-lhe o presidente da câmara sr. Dr.
João Leite de Castro, que discursa sobre os benefícios da linha trazidos a
Fafe, melhoramento que há muito todos nós aspiramos, e attribue esse
melhoramento á boa vontade do sr. Conde de Paçô Vieira e do extinto Soares
Velloso, e simultaneamente, á intelligencia e actividade do sr. Reis Porto.
Concluindo, saúda o povo de Fafe.
E’ depois lido o auto inaugural pelo
guarda-livros da Companhia sr. Francisco Garrido Monteiro, que, cavalheiros de
Fafe, Guimarães, Porto weGraga, assignam.
Depois disto, partiu a comissão das festas,
pessoal da Companhia e convidados, seguidos por duas bandas de musica, para a
villa. Os vivas, que tinham sido levantados no estrado, proseguem – ao sr. Reis
Porto, á Companhia do Caminho de Ferro, engenheiro Lima, aos hospedes de Fafe,
e outras individualidades, - que são correspondidos com
indiscrptivelenthusiasmo. Immediatamente marcha a corporação dos bombeiros com
a sua banda, que tinha feito a guarda d’honra.
Muito povo acompanha»
Reproduzido do “Almanaque Ilustrado de Fafe”,
1911
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