«BENZEDEIRAS
Há em Fafe, e em outras mais
partes, dessas mulheres de virtude, que
curam com palavras os desfiamentos dos
braços e das pernas.
Poem para isso ao lume um púcaro
com água, fazem-na ferver, e quando a fervura se activa, vazam então a agua num
alguidar ou bacia, e põem o púcaro sobre ela com a boca para baixo, colocando
depois a parte aberta ou desfiada do doente por cima do dito púcaro.
Toma então a benzedeira uma
maçaroca de linho cru, fiada de propósito para semelhante objecto, enfia uma
agulha nesse linho, e passa-a deste modo por baixo da parte doente, dando
voltas sucessivas com o fio enfiado do linho, até à total, ou quase total
absorção da água pelo púcaro, travando-se então o seguinte diálogo:
Benzedeira – Eu que é
que aqui coso?
Doente – Carne aberta,
fio torto.
Benzedeira – Isso mesmo
é que eu coso:
Em louvor de S. Silvestre,
Quanto eu fizer, tudo
preste.
E se o púcaro, durante
este tempo da repetição das palavras de
virtude, chegar a absorver a água toda, ou quase toda, sobre a qual está de
fundo para cima e de boca para baixo, ficará então a parte torcida de todo sã
da abertura ou desfiamento; aliás não poderá o enfermo sarar daquela vez, e
ficarão sem virtude as palavras da
benzedeira.
Não é o primeiro púcaro
que se enche na fonte, mas só o décimo, depois de cheios e despejados a fio os
nove primeiros, o que se põe ao lume.
E quando, depois da fervura,
o despejam e emborcam sobre a água, costumam colocar-lhe no fundo e em cruz,
umas contas, um pente e uma tesoura, antes de repetir a fórmula.
Esta benzedura porém
sofre algumas variantes de processo em algumas terras vizinhas.
F.M. da Cunha (Fafe)»
Transcrito (com alteração ortográfica) do:
“ALMANACH DE LEMBRANÇAS LUSO-BRAZILEIRO” de 1859
Por: Alexandre Magno de Castilho
Lisboa, Imprensa Nacional, 1858
Página, 153
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