«As ciganas foram à Cafelândia. Trocaram uma nota de mil
escudos; depois pediram que lhe trocassem uma de 100; a seguir trocaram uma de
50; e seguidamente outra de 20.
E não trocaram mais notas, porque não as há, superiores a
1.000 nem inferiores a 20.
E o nosso amigo Daniel Correia foi muito gentil com as
ciganas; e elas também; tão gentis, tão gratas, tão amáveis que, no meio
daquela balbúrdia toda de troca mais esta, destroca mais aquela, caiu numa
natural confusão, o que teve como consequência elas “agasalharem” uma notinha
de 1.000$00.
As ciganas devem ser versadas em prestidigitação.
E lá se foram, muito satisfeitas, sem deixar rasto; mas não
contavam com o fantasma do Chefe Nunes, que ao receber a queixa coçou a cabeça,
olhou para a Lua, farejou os ares e, subitamente, embarcou num táxi, com rumo a
Guimarães.
Em trânsito, averiguou que as “honestas” ciganas tinham
embarcado na camionete, em direcção a Braga. Mas o Chefe, com a cachimónia em transes
de raciocínio agudo, teve a intuição de que as ladras não iriam meter-se em
Braga, meio grande e perigoso para refúgio de rapinantes; e a pensar assim,
pelo caminho, teve uma crise de “faro”, mandou virar o carro para um caminho
estreito, que vinha desaguar na estrada nacional, um pouco além de Guimarães e
foi encontrar, logo adiante, um acampamento de ciganos, onde estavam, mui
contentes da vidinha, as “honestíssimas” gatunas, que tiveram de voltar à terra
onde iniciaram a sua aventura. E assim, ficaram a saber, daqui para o futuro,
que aqui em Fafe “há pardal”! E o “pardal” é o Chefe Nunes, que dispensa a
Judiciária, a Scotland Yard e o F.B.I.! Aqui só se pode roubar, com ordem dele,
e ele não a dá, e está no seu direito!
Ora este terror dos gatunos só não foi capaz de evitar que o
Almuinha fosse de Fafe a Caracas, na Venezuela, roubar 46 Km. de linha férrea à
C.P. daquela República da América do Sul! E também ainda não descobriu “onde
está o gato” do filósofo da Cumieira…
Portanto, Snrs. Gatunos: Procurai outro campo de acção, que
em Fafe não levais vida! Pelo menos enquanto cá estiver o Chefe Nunes!
Bem, isto só se entende com gatunos de “alto coturno”, dos da
“alta escola”, de “alto nível”; porque, como criminalista insigne, não vai
agora alugar táxis e deslocar-se a Guimarães, a Felgueiras, à Lixa, a Amarante
e até a Vila Real, por causa dum miserável ratoneiro de hortaliças e de cuecas
a secar nos quintais.
O Chefe Nunes só busca “caça grossa”, a tal caça “de
altanaria”. Desde que ele cá está, eu já nem fecho as portas.
Perdi o medo aos gatunos!
OLHO VIVO
In : jornal “O Desforço”, Maio de 1966
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