A romaria de Nossa Senhora de Antime é, pelo menos, desde meados do século XIX, a manifestação religiosa mais concorrida do concelho de Fafe. As primeiras referências escritas conhecidas remontam à segunda metade de oitocentos. A imprensa local da época fala-nos em “sumptuosas” festividades, destacando a procissão sempre muito assistida.
Façamos uma breve viagem até Julho de 1910, cerca de três meses antes da proclamação da República, na recta final de um regime monárquico secular. O Povo andava triste, desanimado e descontente com as grandes dificuldades sociais e económicas que se faziam sentir; Fafe não foi excepção e, pelos vistos, em 1910 não esteve muito motivada para festas. Alguns jornais locais da época: “Jornal de Fafe”, “O Desforço” e “O Povo de Fafe”, fazem alusão às festas da Senhora de Antime. “O Desforço” de 7 de Julho daquele ano relata o seguinte: “É esta a imagem (gravura aqui reproduzida) que todos os anos, desde tempos remotos, costuma vir em charola, aos ombros de oito robustos mancebos em procissão… este ano estava para ser no Domingo próximo descomunais festas, que, por imprevistos redundaram em nada. Depois da última resolução, disse-se que já nem a sobredita imagem cá viria, mas à última hora resolveram traze-la com pequeno festejo, para não perder a posse. Falava-se em modernizar o sistema da condução, não sabemos porém como virá.”
O número seguinte deste semanário, datado de 14 de Julho de 1910, diz: “À última hora a festa da Senhora de Antime, teve, ainda assim, umas vésperas animadas, queimando-se bom fogo do ar e preso. O arraial teve bastante concorrência. No Domingo a procissão perdeu um pouco a sua tradição, porque não foi daqui andor algum esperar a Senhora ao Lombo, esta não trouxe a acompanha-la Santo algum. Veio na charola, conduzida por mancebos e ladeada pelas autoridades. No regresso também se não queimou no Lombo o “castelo”. O jornal “Povo de Fafe” refere que se “queimaram no Lombo alguns bonecos e tocou uma banda de música”. Voltando ao Desforço o redactor acrescentou: “O pitoresco desta festa é a tradição, tirando-lha, perde o valor”.
Os outros jornais aqui mencionados confirmam as dificuldades, ultrapassadas, para a realização das festas da Senhora de Antime, em ano de mudança de regime político.
Em 5 de Outubro de 1910 os republicanos tomaram o poder. Fafe celebrou também com grande euforia o acontecimento que mudou radicalmente a História de Portugal.
Embora de forma pouco exuberante, em 1911 as festas da Senhora de Antime aconteceram sem incidentes. Os jornais locais daquele primeiro ano de novo regime político não deram destaque às festividades, apenas referem. De forma ténue, um arraial no Lombo, onde tocaram duas bandas de música e se queimou algum fogo preso e de artifício.
Não obstante as dificuldades, Fafe nunca deixou de honrar a tão venerada Senhora de Antime, mantendo a tradição de traze-la a Fafe uma vez por ano, quase sempre no segundo Domingo de Julho, ininterruptamente há pelo menos cento e cinquenta anos.
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