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Aspecto da igreja de S. Gens |
Começamos aqui a transcrição dos relatos, em território
fafense, que o Pe. Casimiro José Vieira, líder destacado na revolução popular “Maria
da Fonte”, escreveu no seu livro: “Apontamentos para a História da Revolução do
Minho em 1846 ou da Maria da Fonte”, publicado em 1883.
Por diversas vezes, Fafe foi palco da guerrilha entre as
forças populares e as tropas de Costa Cabral.
No seu trabalho, Pe. Casimiro, “o guerrilheiro”, inicia a
narração dos acontecimentos em território do actual concelho de Fafe, com um
episódio ocorrido em terras de S. Gens, que passamos a transcrever:
«(…) Chegando depois às
Chãs perto de S. Gens, encontrámos aí outra força de povo armado.
Perguntaram-nos por
novidades, disse-lhes o que me pareceu melhor para os animar, mostrando-me
sempre interessado, como com efeito estava, em que o povo vencesse, para que
não entrassem em desconfiança, por me terem visto ir para baixo e voltar logo
para cima.
Dei-lhes também os
conselhos que julguei mais acertados para o bom êxito do ataque à tropa e me
despedi.
Tendo nós andado
pequena distancia, aí vem o povo a correr sobre nós, dizendo com vozes de
desconfiança – Alto, alto, parem aí!!
Logo entendi que estávamos
com o aperto porque eu já esperava, mas mostrando que a consciência nada me
remordia, como com efeito assim era, marchei também a galope para eles e muito
alegre no exterior mas muito triste no interior.
Diziam eles – Não é nada
consigo, é com esse que aí vai, façam alto, havemos de matá-lo, porque é espião
cabralista, que ontem passou para baixo. Retire ao lado para o matarmos.
A isso respondi eu, sem
saber ainda, quem ele era – Antes de o matar ouçam-me.
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Aspecto da Igreja Paroquial de S. Gens |
Estando o movimento
popular circunscrito a 4 léguas somente, desde Braga até Vieira, estamos
perdidos, porque a tropa, que é muita nos abafa em pouco tempo, é preciso que a
sublevação se estenda, não só a todo o Minho, mas, pelo menos também a Trás-os-Montes
e isso com a maior brevidade. Este homem vai fazer a revolução na província de Trás-os-Montes
e por consequência é para nós um grande prejuízo matarem-no – Lidei quanto pude
para o salvar, mas o povo ateimava sempre, que era falso, e que havia de ser
morto.
Apeou ele e atirando a
capa para o lado, ofereceu-se a ir na frente do povo para o fogo, armado ou
desarmado, que se obrigava a todos os sacrifícios. Então um deles, que estava
também para o matar, de arma aperrada e semblante carregado, mas que se
convenceu de que eu tinha razão, disse-me baixo – Fie o homem senão é morto.
- Disse eu então – Pois
bem eu fico por este homem – Olhe lá no que se mete!! Replicaram eles. Sei que
é homem de bem, que não me há-de deixar ficar mal, e eu cá fico na terra para
pagar por ele – acrescentei eu e então o deixaram.
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Vista parcial da Chã de S. Gens |
Soube depois que o
homem era morgado do Serrado de Monte- Alegre, ia de bigode e pera o que era
perigoso para a segurança pessoal.
Póde ser que tenhamos
mais algum encontro – disse-lhes eu – e para que não haja perigo, quero que me
deem dois guardas. – Logo se aprontaram dois rapazes desembaraçados, e muito
contentes, para nos acompanhar, e marchámos.
Chegados a S. Gens
disseram eles – Agora não há perigo, porque vêm aí os de Vilar e outros vizinhos,
todos conhecidos e por isso não é necessário acompanhá-los mais.
Pegou então o morgado
em dois pintos e deu um a cada um deles, mas nenhum aceitou e se despediram.
Declarou então o
morgado, que trazia uma porção grande de pólvora e chumbo para caça em cima do
cavalo em que montava o criado, e eu disse que a tirasse fora, porque se o povo
descobria tal, ninguém lhe valia. Indo ele então para a atirar fora, disse o Pereira, que me
acompanhava, isso por modo nenhum, nesse caso levo-a eu; eu não tenho medo.
-Pegou pois dela,
atirou-a acima da besta em que montava e a levou para Vieira.
Por toda a estrada
encontrámos sempre diversas partidas de povo, uns muito contentes a cantar,
outros deitando-se e dizendo, nada de ir para a guerra; que nos importa cá a
nós a tropa, essa que se bata com outra, nós somos cá para empregados da terra,
esses havemos de dar cabo deles, custe o que custar, vamos mas é dar fogo à Justiça, que nos leva tudo. (…)»
IN: Apontamentos para a história da Revolução do Minho em
1846 ou da Maria da Fonte, Por Pe. Casimiro José Vieira, Braga, Typographia
Lusitana, 1883.
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