4 de janeiro de 2013

MARIA DE FÁTIMA NOGUEIRA ARTESÃ DA PALHA HÁ MAIS DE SETE DÉCADAS





Maria de Fátima Nogueira é uma artesã fafense que mantém a arte tradicional do fabrico de artigos em palha. Com apenas 5 anos de idade começou a bordar lã, passando depois a coser, à mão, chapéus que sua mãe vendia em feiras da região.
Maria de Fátima nunca conheceu outra actividade profissional para além do trabalho da palha. Com 78 anos de idade, a artífice continua a trabalhar diariamente, dando forma à trança de palha que outras mulheres fazem em diversos pontos do concelho. Com mais de sete décadas de actividade afirma que o produto da venda dos seus artigos é um complemento substancial de uma reforma que “parece vir chorada” e afirma que só abandonará a actividade quando a saúde não o permitir.




23 de Dezembro de 2012, Posto de Turismo de Fafe, 14ª Mostra de Artesanato, lá estava, “orgulhosamente só”, a artesã Maria de Fátima Nogueira a única participante que mostrou a sua arte, ao vivo, no certame. Rodeada de chapéus, cestas, bolsas e muitos outros produtos em palha ferrã, a artista pegou na trança e com os seus hábeis dedos levou-a à agulha de uma velha máquina “Singer”, adaptada com motor, porque as forças já vão faltando. Cerca de dez minutos foram suficientes para vermos produzir um chapéu de palha.




A habilidade e o conhecimento desta obreira da palha, natural da freguesia de Golães começaram a ser adquiridos em tenra idade. Com 5 anos já bordava a lã; “Eu queria bordar um chapéu mas a minha mãe não deixava, dizia que estragava a lã. Um dia fechei-me na “côrte” do gado e bordei um chapéu, ela viu e desde aí nunca mais parei”.
Naquela época várias mulheres juntavam-se na casa para coser chapéus à mão, “na altura não existiam máquinas de costurar, era tudo feito manualmente. Lembro-me de coser sete chapéus para menino em apenas uma jornada!” Uma proeza que Maria de Fátima nunca esqueceu e sua mãe agradeceu. “A minha mãe fazia várias feiras na região, vendia chapéus de palha e tecidos a retalho; muitas vezes carregava à cabeça a sua mercadoria deslocando-se a pé para Guimarães… ela dizia que não se sentia bem na camioneta, mas ainda hoje penso que era mais para poupar uns tostões”




O pai da artífice também estava ligado ao negócio da palha, vendia trança para o Funchal na Ilha da Madeira; “lá não havia palha ferrã e eles encomendavam a trança de cá para fazerem chapéus. Na altura havia três grandes armazéns em Braga, era para lá que o meu pai levava a trança”, explicou Maria de Fátima que afirma não ter dificuldade em escoar os seus produtos; comercializa-os em sua casa e em diversas Feiras de Artesanato que, confessa, já frequentou mais. “Tenho muitos conhecimentos e as pessoas procuram-me em casa… “faço muito negócio para revenda, até para professoras e lojas de artigos regionais, não sinto a crise, isto dá para viver. Algumas conhecidas e familiares abandonaram a actividade e agora estão arrependidas”.




A minha filha ainda tentou seguir a profissão e dava uma artesã tão boa ou melhor que eu… casou e largou a actividade”.
Maria de Fátima Nogueira, com 78 anos de idade, trabalha todos os dias na manufactura da palha. Tem uma paixão inabalável pela profissão procurando, ainda hoje, criar novos produtos imprimindo o seu toque pessoal à sua produção que é apreciada por muitos. Uma resistente que nunca baixou os braços. Ao fim de mais de sete décadas a dar forma à palha, Maria de Fátima não consegue viver sem o seu trabalho. Esta lutadora continuará a sua labuta no ateliê da Avenida da Igreja de uma freguesia que outrora foi um dos mais importantes pólos produtores de chapéus de palha do concelho de Fafe, Golães.

CONTACTO: Avenida da Igreja, 129, Golães. - TEL. 253 494 474


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4 Janeiro 2012

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