Maria de Fátima
Nogueira é uma artesã fafense que mantém a arte tradicional do fabrico de
artigos em palha. Com apenas 5 anos de idade começou a bordar lã, passando
depois a coser, à mão, chapéus que sua mãe vendia em feiras da região.
Maria de Fátima nunca
conheceu outra actividade profissional para além do trabalho da palha. Com 78
anos de idade, a artífice continua a trabalhar diariamente, dando forma à
trança de palha que outras mulheres fazem em diversos pontos do concelho. Com
mais de sete décadas de actividade afirma que o produto da venda dos seus
artigos é um complemento substancial de uma reforma que “parece vir chorada” e
afirma que só abandonará a actividade quando a saúde não o permitir.
23 de Dezembro de
2012, Posto de Turismo de Fafe, 14ª Mostra de Artesanato, lá estava,
“orgulhosamente só”, a artesã Maria de Fátima Nogueira a única participante que
mostrou a sua arte, ao vivo, no certame. Rodeada de chapéus, cestas, bolsas e
muitos outros produtos em palha ferrã, a artista pegou na trança e com os seus
hábeis dedos levou-a à agulha de uma velha máquina “Singer”, adaptada com motor,
porque as forças já vão faltando. Cerca de dez minutos foram suficientes para
vermos produzir um chapéu de palha.
A habilidade e o
conhecimento desta obreira da palha, natural da freguesia de Golães começaram a
ser adquiridos em tenra idade. Com 5 anos já bordava a lã; “Eu queria bordar um
chapéu mas a minha mãe não deixava, dizia que estragava a lã. Um dia fechei-me
na “côrte” do gado e bordei um chapéu, ela viu e desde aí nunca mais parei”.
Naquela época várias
mulheres juntavam-se na casa para coser chapéus à mão, “na altura não existiam
máquinas de costurar, era tudo feito manualmente. Lembro-me de coser sete
chapéus para menino em apenas uma jornada!” Uma proeza que Maria de Fátima
nunca esqueceu e sua mãe agradeceu. “A minha mãe fazia várias feiras na região,
vendia chapéus de palha e tecidos a retalho; muitas vezes carregava à cabeça a
sua mercadoria deslocando-se a pé para Guimarães… ela dizia que não se sentia
bem na camioneta, mas ainda hoje penso que era mais para poupar uns tostões”
O pai da artífice
também estava ligado ao negócio da palha, vendia trança para o Funchal na Ilha
da Madeira; “lá não havia palha ferrã e eles encomendavam a trança de cá para
fazerem chapéus. Na altura havia três grandes armazéns em Braga, era para lá
que o meu pai levava a trança”, explicou Maria de Fátima que afirma não ter
dificuldade em escoar os seus produtos; comercializa-os em sua casa e em
diversas Feiras de Artesanato que, confessa, já frequentou mais. “Tenho muitos
conhecimentos e as pessoas procuram-me em casa… “faço muito negócio para
revenda, até para professoras e lojas de artigos regionais, não sinto a crise,
isto dá para viver. Algumas conhecidas e familiares abandonaram a actividade e
agora estão arrependidas”.
A minha filha ainda
tentou seguir a profissão e dava uma artesã tão boa ou melhor que eu… casou e largou
a actividade”.
Maria de Fátima
Nogueira, com 78 anos de idade, trabalha todos os dias na manufactura da palha.
Tem uma paixão inabalável pela profissão procurando, ainda hoje, criar novos
produtos imprimindo o seu toque pessoal à sua produção que é apreciada por
muitos. Uma resistente que nunca baixou os braços. Ao fim de mais de sete
décadas a dar forma à palha, Maria de Fátima não consegue viver sem o seu
trabalho. Esta lutadora continuará a sua labuta no ateliê da Avenida da Igreja
de uma freguesia que outrora foi um dos mais importantes pólos produtores de
chapéus de palha do concelho de Fafe, Golães.
CONTACTO: Avenida da Igreja, 129, Golães. - TEL. 253 494 474
Publicado também no:
4 Janeiro 2012
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