Existem várias versões de lendas relacionadas com a famosa “Justiça de Fafe”. A meu ver, das quatro lendas que chegaram aos nossos dias, esta que aqui transcrevo, da terceira edição da Monografia da Freguesia de Fafe, apresentada em 2008, é a que melhor se adapta à iconografia do monumento à “Justiça de Fafe”, inaugurado em 23 de Agosto de 1981, nas traseiras do Tribunal local.
Contudo, estamos a fazer uma abordagem ao imaginário popular,
como tal, todas as lendas merecem a nossa apreciação. Algumas até podem conter
uma nesga de realidade.
«Um jovem rapaz filho
de gente humilde, no dia das festas de Nossa Senhora da Misericórdia ou Senhora
de Antime, enquanto assistia à passagem da procissão, viu a sua “trigueira”,
bela e amada namorada ser apalpada no “traseiro” por um abastado fidalgo que
visitava Fafe, tradicionalmente, pelas festas da “Vila”. O jovem namorado, embora
ficasse muito ofendido, não quis “fazer peito” e pacientemente deixou passar a
procissão. No final deste acto religioso, o rapaz dirigiu-se ao fidalgo
fazendo-lhe sentir o seu desagrado pelo gesto obsceno feito à sua namorada
momentos atrás. O burguês, tirando a sua cartola da cabeça, fá-la passar junto
da cara do rapagão que sentindo-se uma vez mais provocado, quis lavar a sua
honra, desafiando o ricaço para um duelo. O desafio foi aceite. No momento de
escolher as armas, foi pelo próprio povo que assistia à discussão, pedido aos
homens desavindos que mantivessem a tradição do jogo do pau. O ofendido aceitou
esta escolha popular das armas.
Pelos presentes foram
então entregues aos rivais dois valentes “lódãos”.
A escaramuça começou. Ouviam-se,
de vez em quando, os gemidos de dor dos homens quando sofriam as fortes
pancadas, misturadas com o som do bater dos paus. Os populares que assistiam a
esta renhida luta batiam palmas.
Era o delírio, há muito
que não se via uma rixa destas.
O pobre rapaz deu
tamanha lição de pancadaria no burguês que, fugindo a “sete pés”, abandonou
rapidamente a Praça, ouvindo ainda o grito de todos os populares:
“VIVA A JUSTIÇA DE FAFE”!
“COM FAFE NINGUÉM FANFE”!
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