A quarta edição das Jornadas
Literárias de Fafe (JL) decorreu de 19 a 28 de Abril. Com o lema “Viajar e
Sentir” as JL decorreram a um ritmo alucinante com dezenas de eventos e
iniciativas que envolveram uma grande fatia da população do concelho. Foram
muitos os que se associaram a esta que é considerada a “Festa da Cultura
Fafense”. O êxito alcançado em anos anteriores esteve na origem do reforço de
meios e legitima ambição da Comissão Organizadora do evento, liderada por
Carlos Afonso, mentor das JL. Em pouco tempo as JL atingiram enorme
popularidade e um invulgar envolvimento da população que massivamente
participou e assistiu aos eventos. As JL são um fenómeno cultural incontornável
na região e os seus promotores engrandecem-nas de ano para ano. Quando se
pensava que a fasquia estava muito elevada eis que surgiram as 4ªs Jornadas
Literárias com maior pujança, ultrapassando todas as expectativas.
Foram dez
dias de intensa actividade cultural que teve o seu arranque no dia 19 com o
“Espaço da Bandeira”, onde centenas de crianças testemunharam a abertura
oficial das 4ªs JL. Nesse mesmo dia o Pavilhão Multiusos esteve a rebentar
pelas costuras com o espectáculo “Mala de Cartão”. No dia 20 foi encetado o
Curso de formação intitulado “Viagens na Nossa Terra” que terminará em Maio e
conta com a participação de 150 professores. Pela tarde a Escola de Bailado de
Fafe deu cor e movimento ao centro cívico da cidade com o evento “Viagens na
Cidade” que terminou com a actuação do Coral Santo Condestável do Grupo Nun’
Álvares.
Pela noite o Teatro-Cinema lotado assistiu ao espectáculo “Nos Sons da
Terra e do Mar” uma viagem pelas sonoridades dos cinco continentes
protagonizada pela Academia de Música José Atalaya e corpo de dança do Grupo
Leões do Ferro. No dia 22 foram várias as Escolas que relembraram a descoberta
do Brasil com actividades diversas; a companhia britânica de teatro “Avalon
Theatre Company” veio até Fafe para brindar a comunidade escolar com a comédia
“Roundheads and Cavaliers”; pela noite, a sala Manoel de Oliveira foi pequena
para acolher a família e amigos de Joaquim Barbosa que lançou o seu primeiro
livro de poesia “Rimando por Cá”. No 23 de Abril, dia Mundial do Livro, foram
muitas as iniciativas comemorativas em Escolas, bibliotecas e livrarias da
cidade; Maria Isabel Pinto Bastos lançou a sua obra “Originalidade, Tensão
Dramática em José Régio (do texto à narrativa) na Biblioteca Municipal. O dia
24 foi dedicado ao patrono das 4ªs JL, Ubaldo Ribeiro, descendente de
emigrantes fafenses no Brasil é reconhecido por muitos como uma das maiores
referências vivas da Literatura Portuguesa; “Diz-lhes Que Não Falarei Nem Que
Me Matem” nome da peça teatral que teve lugar no Teatro-Cinema, um monólogo
pelo actor Mário Santos, baseada na cruel experiência de prisão em Peniche do
comunista Carlos Costa, descendente de fafenses que assistiu ao espectáculo e,
no final mereceu o carinho do público presente. No dia 25 de Abril foi
promovido o evento “Sentir a Liberdade”, uma marcha organizada pelos Restauradores
da Granja que envolveu as freguesias de S. Gens, Quinchães e Antime, uma
caminhada com recriações históricas, música e outras actividades.
Cumprido o primeiro ciclo
das JL “Viajar e Sentir” foi altura de entrar na “Fafe dos Brasileiros”, recta
final do evento que decorreu de 26 a 28 de Abril. Foi um fim-de-semana que teve
como palco principal o centro da cidade transformado em feira tradicional com
dezenas de barracas, a lembrar tempos idos, onde freguesias, organizações e
colectividades mostraram e comercializaram os seus produtos, uma espécie de
feira franca que também teve as suas tasquinhas para saborear o néctar precioso
e as iguarias caseiras. Foi a “Festa Fafense”. Na sexta-feira 26, para além da
abertura ao público de várias exposições e mostras, assistimos à recriação
histórica “Achamento do Brasil” por alunos da Escola Profisional de Fafe, com
uma grande caravela quinhentista a servir de fundo no lago da “Arcada”; no Club
Fafense foram lembrados outros tempos com um baile de época com muitos
participantes vestidos ao rigor dos princípios do século XX. O sábado 27
despertou ao som das campainhas das bicicletas antigas pelos “Restauradores da
Granja” em passeio pela cidade; Durante a tarde centenas de escuteiros
protagonizaram o “Parque temático de Jogos Tradicionais” que decorreu na Rua
António Saldanha e Jardim do Calvário; à noite, mesmo com um frio de rachar,
centenas de pessoas assistiram ao espectáculo pelo Teatro Vitrine “Com Fafe
Ninguém Fanfe”, dezenas de actores e figurantes lembraram episódios marcantes
de uma vila fortemente influenciada por brasileiros de torna viagem.
Chegávamos ao último dia da
“Festa da Cultura Fafense” o tão esperado domingo onde todos os caminhos
conduziram ao centro da cidade com a afluência de milhares de pessoas. O início
da tarde foi assinalado com a recriação do acto inaugural dos Paços do Concelho
em 1913. Dezenas de figurantes, a nobreza da Vila republicana liderada pelo
Presidente da Câmara, José Summavielle Soares que cortou a fita vermelha que
abraçava o edifício e discursou do varandim para uma população entusiasmada com
anunciado progresso. D. Fafes, figura lendária representada pelo actual Presidente
do Município, José Ribeiro, proferiu as últimas palavras desta singela mas
marcante recriação histórica, o primeiro centenário dos Paços do Concelho.
Desfile Etnográfico
O culminar da uma grande
festa cultural
Centro da cidade encheu para
ver o maior cortejo de sempre
A tarde do passado domingo,
28 de Abril, será lembrada por vários milhares de espectadores que assistiram
ao Desfile Etnográfico que culminou as IV Jornadas Literárias de Fafe. O
Cortejo teve a participação de 24 freguesias do concelho de Fafe com um número
de figurantes próximo dos 1.300 na sua maioria, membros de colectividades e
outras organizações.
Sob um céu azul salpicado de
nuvens e temperatura pouco amena o desfile saiu do Largo 1º de Dezembro e
percorreu a Avenida 5 de Outubro, a Praça 25 de Abril seguindo pela Avenida das
Forças Armadas até à Escola Secundária.
A Associação Recreativa e
Cultural ARCO de Santo Ovídio abriu o desfile com o seu grupo de tamborileiros
e gigantones ao ritmo da concertina e dos cavaquinhos, logo atrás, um elegante
grupo de figurantes trajados à época (princípios do século XX), organizado pela
AAPAEIF; o amolador e vendedor ambulante do Grupo Nun´Álvares anteciparam a
marcha das freguesias: a primeira foi Aboim com três carros alegóricos: o
moinho de vento, o Centro Interpretativo e uma cozinha de antanho com Carlos
Afonso e representantes da Junta de Freguesia à mesa;
Serafão lembrou as
perseguições a monárquicos e, em dois carros transmitiu uma mensagem ecológica
relacionada com o seu Rio; Várzea Cova trouxe a “Casqueada”, um carro com
carvalhos onde vários homens retiraram a casca para ser moída no engenho; S.
Miguel do Monte com o circuito da lã, um carro onde se tosquiou a ovelha;
Arnozela recriou a lenda do Penedo da Penouta onde, há muito tempo foi achado
um tesouro arqueológico, em outro carro vinha o pastor, o fiel amigo e o
rebanho; Ardegão representou cenas do ciclo do vinho com três carros: a poda,
as vindimas e o lagar. O Grupo Recreativo apresentou o “can can” por um vistoso
grupo de meninas; Queimadela com os seus cavaleiros, quadros rurais e do
quotidiano de outrora; Ragadas participou com um carro de lavadeiras de língua
afiada e uma serração artesanal, a fechar, um grupo folclórico; Moreira de Rei
mostrou que tem orgulho na figura de João Crisóstomo, fundador dos Bombeiros
voluntários de Fafe; Tavassós lembrou a tradição da palha com um carro
alegórico; Paços trouxe um carro mostrando o fabrico pirotécnico e dos chapéus
de palha, atrás o Rancho Folclórico local; S. Martinho de Silvares veio até à
cidade com a antiga Fábrica do Bugio em gigantesco carro, recriando cenas da
vida operária.
O Rancho Folclórico de Silvares também desfilou. Seguiu-se um
grupo de Jogo do Pau à frente do carro de S. Romão de Arões com cenas da
ruralidade perdida. O Grupo Folclórico da Casa do Povo rematou esta prestação;
Santa Cristina de Arões representou-se com uma antiga charrete e dois
cavaleiros; Armil com o carro do Penedo do Ermitão e da Capela de S. Salvador
recriando as suas festividades; Revelhe apareceu com o carro da “Casa das
Tachas”, uma antiga forja e os tamancos tachados; Ribeiros reviveu a lenda da
“Bicha das Sete Cabeças” com um engenhoso carro. No fim o Orfeão de Ribeiros;
S. Gens lembrou a romaria de Santo Amaro e a antiga Estalagem da Pica em dois
elaborados carros; S. Clemente de Silvares participou com um grupo de damas e
cavalheiros vestidos à época (1913); Estorãos e o ciclo do azeite desde a
colheita ao engenho do picoto em garboso carro seguido por grupo folclórico;
Medelo revelou um carro com um moinho de casca e outro representando uma tasca
tradicional. O “tocar das latas no casamento das viúvas foi mais um quadro
típico desta freguesia;
Fornelos e os seus doces tradicionais com dois carros
carregando pequenos doceiros; Antime reviveu o tempo dos operários da Fábrica
do Ferro, o Bairro Operário de S. José e a Escola Manuel Cardoso Martins; por
último a freguesia de Fafe com o Grupo “Leões do Ferro” a conduzir um carro da
antiga peixaria da Feira-velha e as bicicletas antigas dos “Restauradores da
Granja”. O desfile chegava ao seu termo sem antes passar um elegante automóvel
antigo e o Rancho Folclórico de Fafe clamando “vamos para o Brasil”. Um extenso
e muito participado cortejo etnográfico onde as gentes de Fafe mostraram as
suas tradições, o seu património e a memória colectiva de um povo repleto de
História que tem forte apego à sua Terra.
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