Igreja paroquial de Antime, anos 20 do século XX |
«Pleno sábado! Como que por milagre desaparecem a chuva e o frio impróprios da época e, tendas diversas marcam os seus lugares no grande largo da vila. À hora precisa, o “exercito de zabumbas invade as ruas, e as nuvens negras talvez por influencia do estampido das peças, retiram em direcção ao sul! O Leonardo e o Gago (este de Mondim), dois regimentos diferentes, dividem-se. O deste é mais ousado… que o daquele, e a multidão então rodeia-o, aplaude-o, admira-o! Verdadeiro mimo durante o dia e noite aquele tímpano com descantes dos 90 p. c. de Silva Pinto. E, enquanto em Antime se realizava o importante festival noturno, na vila passavam-se agradavelmente horas e horas, disfrutando-se diversões não constantes no programa.
O dia 10 apresenta-se convidativo. Automóveis e camionetes chegam a todos os instantes, cheias. Os comboios vêem repletos. E, pela vila, vão-se então espalhando milhares e milhares de pessoas. O espaçoso largo, com os toldos, barracas etc., oferece um aspecto interessante. Pelos largos e ruas centrais, tudo é ostentoso, alegre, festivo! Há bandeiras profusas a tremular!
Dés de Julho, dia da grande festa, dia da Senhora de Antime – formosa imagem que tem muitos devotos, uma multidão enorme que a adora. E senão, é ver como a acompanham milhares de pessoas cheias de crença, de fé, de respeito – na vinda e no regresso. É ver como rodeiam a sua charola no Lombo, enquanto lá se queima o tradicional Castelo, se queimam bonecos e sobem ao ar estrondosas girândolas, enquanto cortam o espaço aeróstatos, que vão levar ao longe os ecos da crença de uma imensa multidão que se estende por todo aquele pitoresco local e de uma terra que condignamente sabe homenagear a venerável imagem!
Depois do concerto das muitas e reputadas bandas durante a tarde e de grande numero de diversões no centro da vila, o regresso a Antime com esse arraial no Lombo – epilogo das festas diurnas – foi verdadeiramente grandioso.
As despedidas, aquela subida lenta da costeira de Antime – o sol a beijar o manto cor de céu da imagem e a brisa a oscular-lhe a face mimosa e bela, como a borboleta a flor – tudo isso dá àquele remate da festa um tique caracteristicamente poético.
Dés de Julho, dia da grande festa, da tradicional festa da Senhora de Antime!
Não se pode descrever em poucas paginas o que ela foi!
Numeros belos como o das tricanas no jardim – fogo aquático, fogo preso, fogo do ar, conjunto de cinquenta mil lumes expostos por Constantino Lira, de Felgueiras, nos largos e ruas principais, tudo isso foi soberbo!
Três horas da madrugada! Termina o fogo preso. E a lua luminosa, que lá de cima assistiu a tudo animadamente, ficou estupefacta com aquela girândola deslumbrante de remate: e tanto, que ia transmitir ao mundo tanta magnificência presenciada!
Os galos cantam! Os descantes e tocatas continuam delirantemente!
Rompe o dia, é nascido o sol…
As bandas retiram então dos seus coretos, e as trinta mil pessoas que justamente aclamaram os distintos pirotécnicos Fernandes & Filho, de Lanhélas, debandavam com saudade, sonolentas… mas satisfeitas…
E estava assim terminada uma das mais imponentes festas que se realizam em Portugal!»
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