7 de novembro de 2009

O TEATRO-CINEMA DE FAFE

O Teatro-Cinema é um dos principais motivos de interesse arquitectónico da cidade de Fafe, constituindo para a época da sua abertura um importante marco cultural. Era mesmo considerado pela imprensa da época “Um dos melhores teatros do norte do País” e o melhor da província.
A iniciativa de adquirir um velho teatro existente no local e de o reconstruir deve-se ao ilustre fafense Dr. José Summavielle Soares, que assim dotou a então vila de Fafe de uma soberba casa de espectáculos que orgulhava (e ainda hoje orgulha) os fafenses. Concluída a obra em Dezembro de 1923, a sua inauguração apoteótica ocorreu em 10 de Janeiro seguinte, com a apresentação da peça “O Grande Amor”, pela companhia de Aura Abranches.
A sua fachada, de decoração invulgar, é de harmonioso recorte. Pintada em tom rosa e com desenhos de cúpidos alados, como que a simbolizar o amor às artes, esta obra marca o fim das iniciativas dos “brasileiros” de Fafe e dos seus condescendentes, fechando o ciclo da emigração para o Brasil.





A arquitectura do interior é em forma de ferradura, com um tecto abobadado e decorado com motivos pictóricos alusivos a músicos famosos (Chopin, Rossini, Haydn e Mozart), além da figuração do firmamento.
O teatro tem uma lotação aproximada de 300 lugares, incluindo a plateia, as frisas e os camarotes. Como espaço lateral, destaca-se o magnifico salão nobre no 1º andar, a toda a largura do edifício, onde na época áurea da vida social, se realizavam bailes de Carnaval, manifestações de cultura e recreio e outras reuniões onde se juntava a sociedade fafense mais ilustre.



As melhores companhias de teatro do país da primeira metade do século XX por aqui passaram. Aura Abranches no dia da inauguração, Lucília Simões, Amélia Rey Colaço/Robles Monteiro, Chaby Pinheiro, Maria Matos, entre outras.


Pouco depois da sua inauguração, concretamente em Abril de 1924, também já exibia cinema. Naturalmente, mudo. Só nos anos 30 chegaria o sonoro e em 1955 o Cinemascope.
Ao longo de mais de 50 anos, o Teatro-Cinema apresentou inúmeros espectáculos de teatro e milhares de filmes, além de manifestações de diversa índole.
Aquela casa foi ainda sede de importantes comícios da oposição ao regime salazarista, aquando dos seus principais momentos, designadamente as campanhas de Norton de Matos (1949) e Humberto Delgado (1958), e as eleições a que concorria a Oposição Democrática, em 1969.



Com o andar dos tempos, o edifício foi-se degradando e deixou de ter condições para a exibição cinematográfica, pelo que foi encerrado ao público em 1981, por determinação da Direcção Geral de Espectáculos, por ameaçar ruína.
Encerrado durante cerca de 20 anos, a Câmara Municipal conseguiu finalmente, em 2001, depois de aturadas negociações, adquirir o imóvel, pelo montante de 2,5 milhões de euros.


Em 2008, foi adjudicada à Casais, S. A.. a empreitada de recuperação do imóvel pelo valor de € 4.175.111,89. Todo o conjunto do Teatro-Cinema foi devida e pormenorizadamente restaurado no âmbito das obras de requalificação, bem como dotado das mais modernas condições de funcionamento e de utilização.



Por outro lado, em seu redor foi construído um edifício para apoio técnico às actividades do Teatro-Cinema e que inclui a instalação da Academia de Música José Atalaya.





O novo edifício inclui ainda uma sala polivalente – baptizada com o nome de Manuel de Oliveira, em homenagem ao centenário realizador português, ainda vivo – com capacidade para cerca de 150 pessoas. Além da exibição de cinema, nessa sala serão ainda realizadas audições musicais e outros eventos apropriados.








Este post é dedicado a Miguel Monteiro, lider das lutas dos anos 80  contra a demolição do nosso Teatro-Cinema.

2 comentários:

António Daniel disse...

De facto, uma óptima recuperação. Fafe pode orgulhar-se desta obra. Já agora, a fotografia do cinema é fiel, ou corresponde a outra sala? Pessoalmente não conheço, mas a ser essa está muito bonita. Uma última pergunta: costuma haver sessões de cinema?

Jesus Martinho disse...

Por lapso inclui uma foto que não era da sala de cinema de Fafe. Pelo facto peço desculpa.
Não tem havido sessões de cinema. Ao que parece o público não aderiu e o Cine Clube de fafe suspendeu as sessões. Vamos aguardar por desenvolvimentos.
Penso contudo que é uma pena aquela sala não ser aproveitada.