«É esta uma das indústrias
mais características do concelho e, das pequenas industrias, talvez a que maior
número de pessoas ocupa.
A trança é feita de colmo
molhado, que se traz em molhos muito pequenos, debaixo do braço esquerdo. No
mesmo braço dependura-se a trança, à medida que esta vai crescendo e, quando a
porção já é suficiente, vende-se às braças, para freguesias onde se
confeccionam chapéus, entre outras, Travassós – foco de actividade máxima -,
Vinhós e Golães.
A confecção da trança parece
uma brincadeira; um entretenimento proveitoso é-o, pelo menos, para algumas
pessoas, porque, não exigindo grande ciência nem atenção, permite que nela
trabalhe quem quer que seja, sem excluir crianças, mesmo dos dois sexos.
Destina-se sobretudo ao sexo
fraco que, desde o levantar ao recolher, não dá repouso aos dedos.
Em algumas excursões que
fiz, particularmente pelo norte e centro do concelho, quase não vi gente
ociosa. Pelo contrário, as raparigas e velhas estão tão afeitas à trança, que
só quase a largam para tomarem as refeições.
Isso não obsta a que se
entreguem a outras ocupações. E é assim mesmo. Guardam ou conduzem gado,
transportam fardos, cestos ou feixes de crótchas
ao mesmo tempo que entre os seus
dedos fazem correr maquinalmente a trança. Outras vezes, a mãe faz-se acompanhar
do seu filhinho mais novo, daquele que ainda não é capaz de a imitar neste
trabalho, e leva-o até à fonte a vigiar o cântaro da água, para que o seu
serviço renda e não tenha de ser interrompido.
Tem-se divulgado tanto esta
indústria que o número de adeptos, sempre crescente, já se não confina apenas à
parte setentrional do concelho, mas invade o centro em direcção ao sul. A gente
nova prefere este modo de vida a todos os outros, porque, além de fácil, lhe
permite conversar e deslocar-se pela aldeia, até à vila, sem prejuízo do
rendimento do trabalho.
Nas aldeias em que esta
indústria está mais florescente, usam-se as «fazidas de trança», serões
exclusivamente destinados a este serviço.
Nos dias de feira, acorrem a
Fafe aldeãs de todos os pontos do concelho que aí vêm abastecer-se e vender, a
par dos produtos das suas laboiras,
enormes rimas de chapéus de palha. Nem ali afrouxam o seu trabalho, continuando
a interminável faina da trança, enquanto atendem ou procuram convencer algum
freguês.
O concelho, não só fornece
todo o país, mas exporta também frequentemente, para o estrangeiro, grande
quantidade desses chapéus.»
In: “Fafe – Contribuição
para o Estudo da Linguagem, Etnografia e Folclore do Concelho”, Maria Palmira
da Silva Pereira, Coimbra 1952.
Fotos colhidas no evento "Caminhos de Camilo" realizado em 24 de Março de 2012, no âmbito das III Jornadas Literárias de Fafe.
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