17 de fevereiro de 2014

NA SENDA DO PATRIMÓNIO (1)


Após um longo período de mau tempo, com várias tempestades a fustigarem o território, eis que, finalmente, apareceu um domingo solarengo a convidar para mais uma viagem pelo património fafense, e foi o que fiz, na companhia de um punhado de fiéis companheiras: Minha mulher, Carina, minha filha, Sara e as máquinas e lentes fotográficas que me acompanham, quase sempre.

A pé, saímos de Santo Ovídio em direcção ao lugar do Paço, onde fizemos a primeira paragem, para registar um arruinado alpendre e eira, pertencente à igualmente abandonada casa do Paço, um testemunho da ruralidade perdida na periferia da cidade.

Vista o alpendre e casa do Paço, ao fundo, a Capela de Santo Ovídio
Alpendre e eira da Casa do Paço, Santo Ovídio


Poucos metros depois seguimos pela antiga linha do comboio, hoje transformada em pista partilhada de ciclo-turismo. Andámos algumas centenas de metros, sem deixar de comentar a dificuldade que os obreiros da linha férrea tiveram para escavar aquelas trincheiras, rompendo maciços rochosos, no limiar do século XX.








Antiga casa rural abandonada na rua do Senhor do
Bomfim, Bouças


Deixámos a companhia de ciclistas e caminhantes, saindo do asfalto, descendo pela rua de Agrela até ao lugar de Sangidos, da freguesia de Golães. Logo no fim da rua do Senhor do Bomfim, ainda em território de Bouças, fomos surpreendidos por uma paisagem bizarra; olhando para a margem direita do rio Vizela, ali atravessado pela histórica e emblemática ponte medieval de Bouças/Sangidos, mal restaurada em 2012, viu-se um quadro de destruição e abandono, provocado, sobretudo pela força das águas… mas não pense o caro leitor que me refiro ao caudal do Vizela, não senhor, o que vimos, com profundo desagrado, foi o caminho de Sangidos, itinerário medieval conhecido desde 1258, transformado em autentico riacho, qual afluente do rio verdadeiro! Segundo moradores “é uma situação que se mantém há muitos anos e deveria ter sido corrigida nas obras do “Espaço de Recreação e Lazer”; mas qual espaço de recreação e lazer? Nunca existiu de facto! A velha capela de Santo André foi restaurada com algum mérito, a ponte, como já referimos, não teve uma intervenção condigna e a envolvente ficou por requalificar, incluindo o “afluente” do rio Vizela! Desde a inauguração do restauro da capela de S. André ocorrida em 25 e Abril de 2013, o único melhoramento feito no sítio, salvo erro, foi a colocação de uma placa a indicar Golães, que algum popular, descontente, aproveitou para divulgar o protesto; protesto esse que é alegadamente extensivo à maioria dos que ali residem e/ou transitam… uma vergonha! Dizemos nós… um péssimo cartão-de-visita para a antiga e nobre terra de Golães.


O estado de Sangidos (fotos em 2014)





A recente intervenção e o estado actual de Sangidos roubou-lhe a magia, o encanto de um dos mais importantes nichos do património fafense.
Estupefactos, permanecemos, no local, uma boa meia hora para registar o desleixo que ali se verifica.





No actual estado de uma requalificação mal conduzida e inacabada, não tenho qualquer orgulho em ter assinado a placa descritiva da ponte medieval... Miguel Monteiro, autor do texto da outra face da placa, certamente que também manifestaria o seu desagrado... se ainda estivesse entre nós... 




As águas do Vizela passavam rapidamente dentro do seu leito. 


Na impossibilidade de seguir pela antiga via medieval em direcção à Senhora da Oliveira de Guimarães, fizemos “inversão de marcha” e subimos a rua do Senhor do Bomfim até ao pequeno largo onde foi erigida, em 1778 a pequenina capela do Senhor de Bouças ou Senhor do Bomfim. 





Pequena capela barroca do Senhor do Bomfim 


Calcorreámos depois a rua de Fundevila onde deparámos com um belíssimo e bem conservado exemplar da arqitectura residencial setecentista… a data está inscrita sobre uma das gateiras da fachada poente, 1725; “Olhe que nunca tinha reparado nisso e já moro aqui perto há muitos anos! Exclamou o senhor Joaquim. 




Belo edifício do séc. XVIII, Rua de Fundevila, Bouças




Pormenor do aparelho da fachada poente. Gateira sobre a qual foi inscrita a data de 1725 



Após uma conversa fugidia, seguimos em direcção à pista e, pouco depois, surgiu o repto da Sara: Vamos subir até ao alto! Eu já o conhecia muito bem, é o alto do Assento do Rei ou Coroa do Rei, um aglomerado rochoso que o capricho da natureza transformou em pouso real. Valeu bem a pena o “sacrifício” da subida. Do local desfruta-se uma bela paisagem para Santo Ovídio e para Golães. 



Panorâmica sobre santo Ovídio

Panorâmica sobre Golães


A rocha em forma de cadeirão serviu para tirar belas fotografias e, por fim, descansar um pouco e ser “rei” por escassos minutos.



O descanso do "guerreiro"


A Capela de Santo Ovídio vista da "Coroa do Rei"



    




Fotos editadas por Sara Curtis.



          


Sem comentários: