17 de maio de 2013

A INDUSTRIA EM FAFE - UMA VISÃO EM 1930


«Fafe, a terra linda que o pitoresco Minho possue, a mais alegre e a mais elegante, com tantos e tão admiráveis dotes naturaes, fértil, comercial e industrial, muito deve à iniciativa particular.
O majestoso edifício do Hospital, o esbelto Teatro, o agradável Jardim do Calvário. O quartel dos Voluntários, etc., são obras do bairrismo de dedicados filhos de Fafe.
Obra da inteligência, da acção e do empreendimento particular, são também muitas das industrias que Fafe possue e que vão aumentando dia a dia.
Pioneiros da grande, da principal industria de Fafe, foram José Florêncio Soares e o concelheiro Joaquim Ferreira de melo. Aquele fundou a Fábrica do Bugio, em S. M. de Silvares e este alicerçou a Fábrica do Ferro, no logar do mesmo nome, subúrbios de Fafe.


A primeira, logo que concluída e montada ficou, entrou em perfeita laboração: a segunda, a despeito de na sua construção se terem gasto bastantes dezenas de contos, o que dizem transtornou as faculdades mentaes do seu iniciador Ferreira de Melo, não pôde ir além da moagem.
Ambas se erguem como monumentos á margem do rio Bugio e e do rio Ferro, perpetuando a memória dos seus fundadores e ampliadores.
São dois padrões faustosos do nosso valor industrial.
São o orgulho bem legitimo desta laboriosa terra de povo tão honrado e tão português como bom.


A Fabrica do Bugio tem passado por grandes transformações que a inteligente iniciativa do seu sócio administrador snr. Dr. José Summavielle Soares lhe tem sabido introduzir.
Hoje produz o que de melhor e de mais moderno existe. O fabrico dos famosos tecidos de algodão, que são as flanelas de lindos padrões, prtence-lhe; além destas, tem os especiais morins, panos crus, etc.
Ultimamente assentou modernos maquinismos com os quais fabrica números finos com algodão do Egito.
Este ilustre filho de Fafe honra bem as tradições do seu avô.



Fabrica do Ferro, hoje transformada em Companhia chamada de Fiação e Tecidos de Fafe, por iniciativa do ilustre e saudoso filho desta terra José Ribeiro Vieira de Castro, há 44 anos que saiu do letargo em que permanecia.
Foi ele, dotado de invulgar actividade e perspicácia para os altos negócios, que organizou essa Companhia. Teve a seu lado, a colaborar na grande obra, com inteligência e vontade, Manuel de Lemos, que, a despeito de não ser um profissional, teve a clara visão do futuro desenvolvimento da industria de fiação e tecidos.


E, aumentada a fabrica, a produção e o crédito, ela aí está próspera, tendo a felicidade de encontrar nos seus actuais directores snrs. Manuel Cardoso Martins e Albano Ribeiro Vieira de Castro uns dignos continuadores da bela obra de José Ribeiro e Manuel de Lemos.
Impulsionando, porque, em industria, parar é morrer, eles, com o auxilio do sábio engenheiro snr. Henrique Carvalho d’Assunção, aproveitando a água do rio Ferro como força motriz, procederam ás instalações modernas de dois grupos hidro-electricos e á concumitente electrificação das várias secções fabris.
Produz as melhores srjas, panos brancos, estamparia, tecidos de sêda, etc., tendo para isso montados os mais progressivos maquinismos. A oficina de branquiação diz que é a mais moderna e importante que se montou em Portugal.
Possue uma cantina, uma maternidade, assistência médica, um belo e arejado bairro operário na Cruz de Antime, que em breve ficará concluído com casas higiénicas estilo – antiga portuguesa.



O distincto director snr Manuel Cardoso Martins reside em Gaia, mas a sua reconhecida actividade não o deixa descançar: faz constantes visitas á fabrica idealisando inovações, estudando projectos.
Estas duas antigas e importantes fábricas empregam perto de 2.000 pessoas. Sem elas, a miséria em Fafe seria maior.
Abençoados pioneiros. Abençoados sucessores.
Temos ainda a nova Fabrica da Azenha, de tecelagem de algodão e atoalhados, de Leite de Castro & C.ª; a de tecelagem na Pica, de José Maria da Cunha Nunes; a da Empresa Industrial de Fafe, de José Garcia d´Almeida Guimarães, que fabrica lindas e modernas mobílias; e a das meias em Silvares, de Arlindo Marinho. Ainda há muitas mais industrias pequeninas que, se tiverem quem as proteja, poderão vir a desenvolver-se espantosamente.
E quem nos diz que aquelas novas fabricas, daqui a vinte ou a cinquenta anos ainda poderão chegar a ser grandes como as primeiras?
Oxalá. »

IN: “Almanaque Ilustrado de Fafe”, 1930


Sem comentários: