«Fafe, a terra linda
que o pitoresco Minho possue, a mais alegre e a mais elegante, com tantos e tão
admiráveis dotes naturaes, fértil, comercial e industrial, muito deve à
iniciativa particular.
O majestoso edifício
do Hospital, o esbelto Teatro, o agradável Jardim do Calvário. O quartel dos
Voluntários, etc., são obras do bairrismo de dedicados filhos de Fafe.
Obra da inteligência,
da acção e do empreendimento particular, são também muitas das industrias que
Fafe possue e que vão aumentando dia a dia.
Pioneiros da grande,
da principal industria de Fafe, foram José Florêncio Soares e o concelheiro
Joaquim Ferreira de melo. Aquele fundou a Fábrica do Bugio, em S. M. de
Silvares e este alicerçou a Fábrica do Ferro, no logar do mesmo nome, subúrbios
de Fafe.
A primeira, logo que concluída
e montada ficou, entrou em perfeita laboração: a segunda, a despeito de na sua
construção se terem gasto bastantes dezenas de contos, o que dizem transtornou
as faculdades mentaes do seu iniciador Ferreira de Melo, não pôde ir além da
moagem.
Ambas se erguem como
monumentos á margem do rio Bugio e e do rio Ferro, perpetuando a memória dos
seus fundadores e ampliadores.
São dois padrões
faustosos do nosso valor industrial.
São o orgulho bem
legitimo desta laboriosa terra de povo tão honrado e tão português como bom.
A Fabrica do Bugio
tem passado por grandes transformações que a inteligente iniciativa do seu
sócio administrador snr. Dr. José Summavielle Soares lhe tem sabido introduzir.
Hoje produz o que de
melhor e de mais moderno existe. O fabrico dos famosos tecidos de algodão, que
são as flanelas de lindos padrões, prtence-lhe; além destas, tem os especiais
morins, panos crus, etc.
Ultimamente assentou
modernos maquinismos com os quais fabrica números finos com algodão do Egito.
Este ilustre filho de
Fafe honra bem as tradições do seu avô.
Fabrica do Ferro, hoje transformada em
Companhia chamada de Fiação e Tecidos de Fafe, por iniciativa do ilustre e
saudoso filho desta terra José Ribeiro Vieira de Castro, há 44 anos que saiu do
letargo em que permanecia.
Foi ele, dotado de
invulgar actividade e perspicácia para os altos negócios, que organizou essa
Companhia. Teve a seu lado, a colaborar na grande obra, com inteligência e
vontade, Manuel de Lemos, que, a despeito de não ser um profissional, teve a
clara visão do futuro desenvolvimento da industria de fiação e tecidos.

Impulsionando, porque,
em industria, parar é morrer, eles, com o auxilio do sábio engenheiro snr.
Henrique Carvalho d’Assunção, aproveitando a água do rio Ferro como força
motriz, procederam ás instalações modernas de dois grupos hidro-electricos e á
concumitente electrificação das várias secções fabris.
Produz as melhores
srjas, panos brancos, estamparia, tecidos de sêda, etc., tendo para isso
montados os mais progressivos maquinismos. A oficina de branquiação diz que é a
mais moderna e importante que se montou em Portugal.
Possue uma cantina,
uma maternidade, assistência médica, um belo e arejado bairro operário na Cruz
de Antime, que em breve ficará concluído com casas higiénicas estilo – antiga
portuguesa.
O distincto director
snr Manuel Cardoso Martins reside em Gaia, mas a sua reconhecida actividade não
o deixa descançar: faz constantes visitas á fabrica idealisando inovações,
estudando projectos.
Estas duas antigas e
importantes fábricas empregam perto de 2.000 pessoas. Sem elas, a miséria em
Fafe seria maior.
Abençoados pioneiros.
Abençoados sucessores.
Temos ainda a nova
Fabrica da Azenha, de tecelagem de algodão e atoalhados, de Leite de Castro
& C.ª; a de tecelagem na Pica, de José Maria da Cunha Nunes; a da Empresa
Industrial de Fafe, de José Garcia d´Almeida Guimarães, que fabrica lindas e
modernas mobílias; e a das meias em Silvares, de Arlindo Marinho. Ainda há muitas
mais industrias pequeninas que, se tiverem quem as proteja, poderão vir a
desenvolver-se espantosamente.
E quem nos diz que
aquelas novas fabricas, daqui a vinte ou a cinquenta anos ainda poderão chegar
a ser grandes como as primeiras?
Oxalá. »
IN: “Almanaque
Ilustrado de Fafe”, 1930
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