Com 82 anos de idade Daniel
de Oliveira apresenta uma jovialidade apreciável. Aposentado há 17 anos, mantém
o seu pequeno negócio que afirma, “vai dando para viver”. Aprendeu muito com a
vida e ao fim de um longo percurso de 70 anos atrás de um balcão, com algumas
contrariedades pelo meio, Daniel de Oliveira mantem-se firme, aguardando
clientes que tardam em chegar. Mas o “Daniel das lãs” nunca está só. A imagem
de Nossa Senhora do Sameiro, a Santa da sua devoção está sempre ali ao lado,
protegendo-o e segredando-lhe a receita da longevidade.
Daniel de Oliveira nasceu na
freguesia de Golães em 10 de Junho de 1930. Antes de completar os 13 anos de
idade, contrariando a vontade dos progenitores, o menino Daniel foi trabalhar
como caixeiro. “Naquele tempo era uma honra ser-se caixeiro. Era um emprego
bonito, tínhamos de andar aprumados, vestidos de fatinho e gravata”. Daniel
começou a sua actividade profissional como aprendiz na casa de fazendas de
Eugénio da Silva que pouco tempo depois vendeu o negócio a Carlos da Cunha, que
teve um grande armazém em Docim (Quinchães), onde o jovem Daniel trabalhou
alguns anos. “Ganhava então 50 Escudos por mês”. Terminadas as obras na loja
emblemática, “Armazéns Cunha”, Daniel regressou à casa de origem onde esteve
sete anos como praticante. “A profissão de Caixeiro tinha várias categorias:
aprendiz sem prática, aprendiz com prática, praticante, 3º, 2º e 1º caixeiro. “Como
praticante, o meu salário era de 380 escudos”.
Algumas “desinteligências”
com os patrões e um parco ordenado levaram Daniel Oliveira, já adulto, a
abandonar os “Armazéns Cunha” transitando para o Centro Comercial” de João
Carlos da Conceição. “Aquilo de centro comercial não tinha nada, não era como
os da actualidade, mas era assim conhecido. A mim até me chamavam o Daniel do
centro”, revelou.”De praticante passei logo a 1º caixeiro, auferindo o dobro do
salário, 760 escudos. Um ordenadinho bem bom, naquela altura”, constactou o
nosso entrevistado que até 1968 esteve “como peixe na água”. Era como um
patrão”. “Daniel do Centro” atendia com classe, fazia a escrita e, entre outras
ocupações, decorava as montras, tarefa que adorava fazer granjeando alguns
prémios dos quais se enobrece.
Casado, com três filhos, o
caixeiro Oliveira confessou que ganhava bem; “4.500 escudos, muito mais que os
2.600 escudos que pagavam aos professores, comparou Daniel, que apesar da sua
boa situação profissional, tinha ambição, “queria dar aos filhos o que não pude
receber dos meus pais”. Foi então, no ano de 1969, que o experiente caixeiro
passou a patrão, estabelecendo-se numa pequena loja onde existiu a sapataria de
José Manuel Rodrigues, na rua Monsenhor Vieira de Castro.
“A confecção proliferava. Na
altura apareceram as gangas, as bombazinas, as samarras com peles de raposa… Os
tecidos a metro e as malhas para senhora completavam o artigo que
comercializava. Arrisquei e fui bem-sucedido. Nas décadas de 60,70 e 80,
ganhou-se muito dinheiro”, garantiu Daniel Oliveira que lembrou os tempos em que
os fregueses faziam fila à porta das lojas, sobretudo em dias de Feira Semanal,
sublinhou.
“Depois isto começou a
decair e a concorrência era cada vez maior, o pronto-a-vestir invadiu o mercado
e eu tive e arranjar uma solução para o meu negócio”. O comerciante resolveu
então dedicar-se ao fio de lã, de origem espanhola e francesa. “Que eu conheça
já não existem fabricantes de fio de lã em Portugal”, observou Daniel,
garantindo que o seu artigo tem qualidade. A lã também tem época alta, nos
meses de Outubro a Março vende-se mais, é por isso que tenho os artigos de viagem
e outros, para colmatar a época de pouca saída de lã, explicou.
Daniel
Oliveira foi também um activista e orgulha-se de ter ajudado a fundar diversas
organizações.
A vida social sempre atraiu
o nosso entrevistado. Nunca foi homem de estravagâncias e sentia que podia
ajudar o próximo através do associativismo. Daniel Oliveira não escondeu a sua
soberba quando falou na sua participação activa na refundação do emblemático
Grupo Nun´Álvares, em 1952 e recorda com saudade as peças de teatro e o
conjunto musical “Pimpinela”; A CERCIFAF foi outra organização que ajudou a
fundar, ocupando, ainda hoje algum do seu tempo livre; Apesar de uma vida
curta, o Ellos Club de Fafe foi outra organização que Daniel ajudou também a
criar, à semelhança da “Escola de Pais do Liceu de Fafe”. Esteve também,
durante anos, ligado à “Fábrica da Igreja da Paróquia de Fafe”. A vertente
humanista e solidária de um homem que deixou a sua marca na vida social do concelho.
A entrevista chegava ao fim
e uma cliente entrou no estabelecimento. Comprou um novelo de lã para acabar o
seu labor… olhou para uma caixa de lãs coloridas e perguntou quantos novelos
seriam necessários para tricotar um xaile. O experiente comerciante indicou
quantidade e preço. A senhora exclamou: “Nos chineses fica mais barato e não dá
trabalho!”... Mas não é a mesma coisa, pois não Sr. Daniel?
Publicado também no jornal:
9 Outubro 2012
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