Por Faustino Silva Leite
As lendas são parte
importante do saber e da cultura popular de qualquer povo ou região. São
transmitidas muitas vezes de geração em geração.
Certo dia, encontrando-me na
companhia de algumas pessoas idosas, ouvi contar uma história sobre um penedo,
ao qual eles chamavam: PENEDO DOS GATOS.
A lenda que vou contar, surgiu
a propósito, do proprietário do mesmo o ter vendido a um pedreiro, para ser
rachado e utilizado o “perpienho” na construção civil.
Este penedo (que conheci)
tinha certas particularidades: reentrâncias no sopé, uma fenda no centro a todo
o comprimento e pequenas cavidades espaçadas (que segundo o que ouvia, eram as
marcas dos pés de uma senhora moura). Para além de tudo isto, fazia-se ouvir o
efeito do ECO, devido com certeza à morfologia do monte.
Diz a lenda que esta
constituição granítica estava sujeita a um encantamento dos mouros, porque dentro
existia um tesouro; e nenhuma força ou artifício humano poderia abrir ou rachar
o penedo, a não ser que se quebrasse o encantamento.
O encantamento só poderia
ser quebrado, ao ler-se o livro de S. Cipriano à meia-noite, e a pessoa que
tentasse, tinha que ser destemida porque se ouviriam grandes estrondos.
Ainda segundo as mesmas
pessoas, houve um “atrevido” que tentou quebrar o encanto. Para isso, munido do
livro, dirigiu-se, perto da meia-noite ao monte onde existia o penedo. Cheio de
esperança começou a ler. A certo passo da leitura, quando lia uma frase que
falava de fogo, ouviu um estrondo tão perto de si que, julgando tratar-se d’alguma
coisa do outro mundo, desatou a fugir a sete pés. O estrondo que ouviu foi o
resultado dum tiro de espingarda de carregar pela boca que um seu amigo,
sabedor da tentativa de desencanto, desfechou para lhe pregar uma partida.
O dito penedo encontrava-se
num monte localizado perto do campo de futebol do Grupo Desportivo de Golães,
propriedade, segundo julgo, do senhor Manuel Castro Leite.
A partir deste acontecimento
jamais houve quem se atrevesse a quebrar o encantamento de que fala a lenda; a
não ser um pedreiro cá da nossa praça que o rebentou sem precisar do Livro de
S. Cipriano, mas sim à força de pólvora, dinamite e muito trabalho.
P.S. – O que nunca soube,
foi porque lhe chamavam “PENEDO DOS GATOS”.
FAUSTO
Esta peça foi publicada, há mais de três décadas, no jornal "Sete Cores" fundado em Abril de 1981 pelo grupo "Arco Íris" da freguesia de Golães. O jornal, sem periodicidade definida, teve como responsável Manuel Avelino Freitas Baptista.
Mais um contributo para o resgate do imaginário popular fafense.
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