As primeiras referências à
romaria da Senhora de Antime surgem na segunda metade do século XIX, através da
pena do grande romancista Camilo Castelo Branco que, na sua obra “Memórias do
Cárcere”, editada pela primeira vez em 1862, faz a seguinte descrição: “É de
saber que Luis Lopes, António Manuel e José Vieira, que ainda vive, foram em
anos verdes, três denotados jogadores de pau, e tamanho terror incutiram nas
cercanias de Fafe que bastaria a qualquer deles, para vencer a sua, mandar o
pau e não ir, como o rei da Suécia fazia às botas.
As mais memorandas façanhas
dos Vieiras tinham o seu teatro na celebrada romaria da Senhora de Antime. Aí
apareciam os três campeadores mascarados, como era de uso em mancebos de
famílias de alto porte. As máscaras afiavam as chancas de outros chibantes, e
deste gracejar de mau agouro procedia o partirem-se as caras por debaixo das
máscaras, como se as não quisessem para outro mister, ou as sacrificassem à
padroeira da romagem, como os índios se estiram sob as rodas das carroças dos
seus ídolos. A Senhora de Antime é de pedra e pesa com a charola vinte e quatro
arrobas. Os mais possantes moços da freguesia pegam ao banzo do andor.
Aconteceu, há anos, ser um dos que puseram ombro ao andor mal visto dos outros,
e de um principalmente. Ao dobrar de uma esquina o moço odiado sentiu-se vergar
sob as vinte e quatro arrobas de pedra, e morreu instantaneamente esmagado. O
principal inimigo do morto foi logo conhecido e varado por uma choupada, que lhe fez
espirrar o sangue e a vida à charola da imagem. Tirem disto a limpeza de
consciência e religiosidade daqueles sujeitos, que ali vão dar testemunho de
seu fervor, com a Senhora de pedra aos ombros!”.
O prematuramente
desaparecido investigador Miguel Monteiro defendeu que a procissão de Nossa
Senhora de Antime tem raízes num “ritual muito antigo praticado pelos rapazes
casadoiros, cumprindo assim o rito da passagem de adolescentes para o estádio
dos adultos, num hino à fecundidade que lhes é esperada pela comunidade,
simbolizado na Ara e no icon.” O mesmo autor baseou esta interpretação no facto
da Senhora de Antime ser também designada por Senhora do Sol, numa manifestação
mágico-simbólica à estrela principal do sistema solar, como “valor masculino a
quem são atribuídas capacidades fecundantes”.
Miguel Monteiro escreveu
ainda: “Com a cristianização da região, procurou-se substituir este ritual
pagão por outro mais adequado à simbologia cristã, surgindo assim a Nossa
Senhora de Antime como um culto de substituição, ligado provavelmente ao
mosteiro de Santa Maria de Antime, documentado já no ano de 1120, tendo o icon pagão
primitivo sofrido uma transformação plástica, colocando-lhe uma cabeça e os
braços, de modo a dar-lhe as feições de uma Santa Cristã.”
Decorações das Festas da Vila - anos 40
Em 1874, Pinho Leal, no seu
Dicionário Corográfico descreve a imagem da Senhora de Antime como sendo de
“granito metamórfico, com braços postiços e sem pernas nem pés, nem feitio
algum de gente, além da cara.”
Será um pouco arrojado, quanto a mim, atribuir
uma datação anterior ao cristianismo à imagem desta Senhora, contudo, seria
muito interessante fazer-lhe um estudo meticuloso que certamente dissipará
algumas teses. Do que não temos qualquer dúvida é que a imagem em pedra de
Nossa Senhora de Antime é muito antiga, talvez até, um pouco anterior ao século
XV.
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