“Mais uma vez o
calendário, no seu eterno fadário de anunciar aos quatro ventos o que lhe
mandam, (no que mostra ser bom filho) registou para o principio de Março o
Carnaval deste ano de 1924, que Deus ampare para gáudio dos açambarcadores e
pesada cruz de todos nós.
E, francamente! Isto de
Carnaval em dia fixo do ano é uma fita como outra qualquer e com o que eu não
concordo, ressalvada – é claro! – toda e qualquer opinião melhor.
É que, afinal de
contas, se boas contas deitarmos à vida, voçes querem melhor Carnaval que esta
vida que todos nós levamos?
Todo o ano é
Carnaval. Carnaval de todos os meses, Carnaval de todas as semanas, de todas as
horas, Carnaval de todos os segundos.
Aquilo de parlamento
(já se sabe) é um Carnaval perfeito. Isto de açambarcadores um Carnaval é.
E todo o mundo anda
mascarado e a jogar o carnaval. Uns jogam a vida, outros a honra, estoutros os
semelhantes, aqueloutros a Pátria.
E há mascaras então
por este mundo fora – santo Deus! – que são capazes de fazer de José Júlio da
Costa um benemérito da fraternidade e de Afonso Costa um frade mendicante!!!
Não se torne pois, a
falar em arnaval só de trez dias! Não se ande a cansar o calendário nem a dar
cabo da cabeça para calcular o tempo do Carnaval no transcurso do ano!
Bom Carnaval temos
nós todo o ano, graças a Deus! E mal nos ia a nós se este carnaval se resumia
ou acabava que se não pudesse jogar mascarado pelo ano fóra!...
A Canalhocracia, ali
da folhéca, tornava tamanha indigestão de salas de visita e casinhas que ainda
d’aqui a um ano havia de saber ás casinhas!
Assim felizmente! –
não há a lamentar desastres de maior, e lá de quando em vez for maior o arroto…
isso são coisas que acontecem.
E se estamos em
Carnaval, tudo se desculpa. Ora se não havia de desculpar…! Pois está visto. É
Carnaval?! – é Carnaval!...”
C.
In:
jornal “O Fafense”, 9 março 1924
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