"Lá tem continuado, com o
maior afan, a chinfrinada das câmaras.
Os escândalos vão
apparecendo sucessivamente, e os trombeteiros ou gaiteiros monarchicos
continuam degladiando-se mutuamente. (…) seguese a antiga rotina. Descobre-se
uma roubalheira, que para bem das nossas finanças nunca seja inferior a dezenas
de contos de reis, procede-se desde logo a um inquérito, nomeia-se uma comissão
e eis já quase sanada a falcatrua.
Os inquéritos parlamentares
têm já exoberantemente e por muitas
vezes provado a sua improfiquidade; e,
para mais compenetrados ficarmos d’isso, basta dizer-se que elles terminam
quasi sempre por votações politicas, por sobre as quaes se estende o elástico
manto monarchico ficando todos os escândalos reduzidos ás mais beneméritas
acções e os seus autores metamorphoseados
miracolosamente nas melhores creaturas, nos mais arrojados salvadores da
pátria.
Uma comédia, tudo isto, e um
meio bem fácil e por demais acommodado para engodar o povo (…) E assim,
n’este charivarismo medonho e ridículo,
se continua a discussão na câmara dos deputados, sem que se ocupem d’uma cousa
seria e que possa dar ao paiz alguma utilidade.
(…) Para quê descobrir
roubos se os seus autores ficam sempre impunes e ainda por cima rindo-se
sarcasticamente da ingenuidade dos acusadores?
(…) Finalmente, não vale
illudir-nos, tudo isto que se etá passando nada mais demonstra que a podridão e
a miséria a que está reduzido o chamado parlamento portuguez. (…) Uma súcia de
hypocritas que assim tentam enganar a nação.
E o povo, quando se
compenetrará do terrível jogo?
Quando se esbalhará da
lethargia que há tanto tempo lhe obscurece o espírito?
Accorda, besta!"
IN: Jornal “O Desforço”
Semanário republicano de Fafe (extinto)
Transcrição parcial do texto
original datado de 28 de Novembro de 1894.

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