A conhecida poetisa
fafense Soledade Summavielle conheceu a “santinha” e descreve-a “sentada na
cama, de tez clara, dois bandós negros a emoldurarem-lhe o rosto oval, olhos
piedosos, brandos e escuros; um sorriso leve nos lábios finos e vermelhos, um
longo rosário nas mãos e uma varinha de cana com que abria a porta aos que
batiam”.
“ A casa de Maria de
Jesus ficava a caminho da Escola Primária e os alunos, na passagem, pediam-lhe
orações e deixavam-lhe moedas num pequeno prato de barro junto do seu oratório.
Nele havia sempre dois castiçais de vidro com velas, palmitos de papel,
raminhos de perpétuas e uma lamparina acesa brilhando no escuro”. Soledade
conta ainda que as paredes do quarto da “santinha” estavam forradas a notas de
banco, suspensas pelas pontas.
“Havia ali escudos,
pesetas, liras, francos e dólares, enviados das mais diversas partes do Mundo”,
refere o conto da escritora.
Dizia-se que a
“santinha nunca sentia fome e raras vezes comia”. Outros diziam que se
alimentava durante a noite.
Maria de Jesus era
muito generosa e distribuía dinheiro das dádivas pelos mendigos e também para
pagar a uma senhora que cuidava da inválida e da casa.
Maria de Jesus
afirmava: “Não faço milagres, simplesmente peço a Deus pelos que sofrem”.
“Sonhara que vira o Céu e ouvira o coro dos Anjos”.
Soledade Summavielle
acompanhou de perto Maria de Jesus e fala-nos na “Raínha” nome de uma pomba
branca que servia de companhia à paralítica durante as longas noites. “Ao
nascer do sol, desaparecia.”
A fama da “santinha
de Fafe” espalhou-se rapidamente por todo o Norte do país. “ De Amarante, do
Douro etc., se fazia uma romagem constante para Fafe, a invocar milagres. O
famoso poeta Teixeira de Pascoais chegou a mostrar interesse pela senhora
pedindo informações ao jornal “O Desforço”. Outros jornalistas conhecidos
tentaram, sem sucesso, entrevistar e fotografar Maria de Jesus.
“Debaixo de uma misteriosa chuva de borboletas brancas
que caía sobre Fafe e arredores, Maria, a santinha, fora a enterrar”
Não sabemos com que
idade, Maria de Jesus Teixeira, a “santinha de Fafe”, foi sepultada no
cemitério de Fafe em 29 de Abril de 1937. Alguns afirmam ter assistido ou
ouvido contar que, no dia do funeral o céu de Fafe ficou coberto de borboletas
brancas. A pomba “Raínha, essa nunca mais foi avistada.
Passados 75 anos a
campa onde jaz Maria de Jesus continua a ser visitada por inúmeros devotos com
uma fé inabalável. O sepulcro é um autêntico local de culto onde nunca faltam
as flores, velas, ex-votos, imagens de santos e memoriais.
Maria Augusta da
Costa, que fomos encontrar em orações junto da campa da “santinha”, afirma ser
uma das muitas pessoas devotadas à “nossa senhora”, como ela lhe chama. Augusta
afirma já ter recebido várias graças da “santinha”, deslocando-se ali com
frequência para fazer os seus pedidos e cumprir as suas promessas. Para esta
fafense, Maria de Jesus é “Santa”. “Como ainda tem família viva, ainda não
puderam levantar o corpo para ser canonizada”, referiu a devota com os olhos
vidrados, visivelmente emocionada.
Publicado também no jornal "Notícias de Fafe", 17 Agosto 2012

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