17 de dezembro de 2010

O ESTADO DO PATRIMÓNIO CLASSIFICADO DE FAFE

Casa do Ermo Paços


O concelho de Fafe tem oito Imóveis classificados, um dos quais é Monumento Nacional, apesar das disposições legais, alguns destes edifícios Históricos estão votados ao abandono e ameaçam ruína.


Uma boa parte das Terras portuguesas fazem bandeira do seu Património Cultural. Tiram partido turístico da sua raiz Histórica e da sua Etnografia, conservam-no e divulgam-no.

O português tem, normalmente, orgulho nos testemunhos de um passado mais ou menos longínquo, herança incomensurável que todos temos o dever de salvaguardar.

O concelho de Fafe também tem a sua História, os seus Monumentos a sua memória colectiva. Terá também a sua soberba pelas marcas do seu passado.

No sítio de Internet do IGESPAR (Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico), estão inscritos oito imóveis classificados em todo o território que constitui o concelho de Fafe.

Em Portugal estão previstos três tipos de classificação para o Património Imóvel: Monumento Nacional, Imóvel de Interesse Público e Imóvel de Interesse Municipal.

A Igreja Românica de Arões (séc. XIII) é o único Monumento Nacional que temos por cá.


Com a classificação de Imóveis de Interesse Publico existe: o Solar da Luz em Fornelos, construído no séc. XVII e remodelado na centúria seguinte, privado e em escandaloso estado de conservação, ameaçando ruína; A Casa do Ermo em Paços que foi alvo de restauro pelo seu actual proprietário. Pertenceu à família Vieira de Castro e muitas vezes serviu de refúgio a Camilo Castelo Branco, grande amigo de José Cardoso Vieira de Castro; O chamado Palácio da Fiação de Fafe, localizado na Rua José Cardoso Vieira de Castro, (Imóvel de Interesse Municipal) de arquitectura europeia dos princípios do século XX, construído por um alemão de seu nome Fisher, colaborador da Companhia de Fiação e Tecidos de Fafe, que acabaria por suicidar-se naquela casa, onde mais tarde funcionou a Biblioteca Municipal e depois acolheu o Museu da Imprensa. Este Palacete foi recentemente vendido pelo Município a um particular; O “Castro” de Santo Ovídio, alvo de escavações arqueológicas nos anos 80 do século passado é o mais importante testemunho da ocupação humana ancestral na mancha urbana da cidade com as suas ruínas novamente entregues ao abandono e toda uma área arqueológica por estudar e valorizar; A Casa particular do Santo


Velho na Av. das Forças Armadas solar de origem seiscentista, armoriada no séc. XVIII, que ao longo do tempo foi sofrendo alterações, entre as quais a construção, no séc. XIX, de uma pequena capela dedicada a Nossa Senhora do Carmo; A Casa de Arrochela confinante à Igreja de Arões S. Romão foi propriedade do primeiro Conde de Arrochela de seu nome, Nicolau de Arrochela Vieira de Almeida Sodré Laborão de Morais e Castro Pimentel, título outorgado por D. Maria II em 1851. A Casa de Arrochela, triplamente armoriada, pode ser uma edificação do século XVII. Encontra-se hoje num estado lastimável, muito degradada e totalmente abandonada; O Teatro-Cinema de Fafe, reconstruído nos inícios do século XX (1923) é hoje propriedade do Município que de forma exemplar mandou restaurar. O belo edifício com arquitectura de raiz italiana é uma das pérolas do Património Arquitectónico fafense, devolvido à cidade e às artes do espectáculo em 25 de Abril de 2009. Um exemplo de requalificação patrimonial em que a população teve também grande influencia.

Casa de Arrochela
Quanto a Imóveis de Interesse Público, em Fafe, é tudo. O IGESPAR dá conta de mais três imóveis em vias de classificação: o Palacete do “Centro de Emprego” Arte Nova de importação francesa, datado de 1912, é actualmente propriedade do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social. O seu estado de conservação começa a ser preocupante; Casa e Quinta de Paredes em Medelo, solar barroco construído em meados do século XVII, tem despacho de abertura datado de 1994; Por fim a Igreja, antigo Convento da Cruz e cerca localizado na freguesia de Fareja. Conjunto já muito alterado mas que continua a manter alguns pormenores da sua antiguidade. Tem despacho de abertura desde 2004.

Analisando a listagem oficial do IGESPAR, concluímos que desde 1927, altura em que foi classificada a Igreja de Arões, passaram 59 anos até serem feitas novas propostas de classificação de Imóveis Históricos. Exceptuando o Teatro-Cinema o restante Património classificado é privado e em alguns casos encontra-se mal conservado e votado ao abandono, é o caso da Casa de Arrochela, do Solar da Luz e do Povoado Castrejo de Santo Ovídio.


Felizmente que existem proprietários que souberam preservar os seus Imóveis sem descaracterizar os edifícios. A Casa do Ermo é disso bom exemplo.

É importante frisar que o Património classificado no concelho de Fafe, corresponde a uma pequena parte das reais potencialidades nesta vertente.
Solar da Luz, Fornelos


Pelas trinta e seis freguesias que integram este Município existe muitos mais Imóveis com interesse Histórico e Arqueológico que vai sendo agredido e destruído; por incúria e ineficácia da tutela pelo Património Cultural, que muitas vezes não consegue accionar os mecanismos legais e os recursos financeiros para intervir em todo o Património Nacional… é aliás utópico pensar que o poderia fazer.

As Autarquias, querendo, podem assumir um papel fundamental na preservação do Património Arquitectónico e Arqueológico. Existem casos onde o poder politico local está sensibilizado para esta necessidade premente, e mesmo com parcos recursos, consegue realizar um trabalho meritório, mobilizando também cidadãos interessados em conservar a sua/nossa identidade Histórica.

Em jeito de reflexão final digo que, na minha modesta opinião, a classificação do Património, só por si, não tem a eficácia desejada. Mais importante será: registar, estudar, conservar e valorizar o Património Histórico e Arqueológico. Tomar medidas eficazes de protecção não permitindo a sua destruição, é um trabalho, que em Fafe, é absolutamente prioritário.


Palacete Arte Nova (1912)

1 comentário:

António Daniel disse...

Pormenores bem interessantes. Não conheço os edifícios de Fareja e de Arões. Já o Solar da Luz... é realmente uma pena não ser aproveitado para outros fins. Estava-me a ver a fumar um charuto com música jazz a embalar-me e com um copo de vinho a pensar na vida curta. Se fosse rico, investia nestas coisas.