28 de agosto de 2020

SENHORA DAS NEVES A LENDA NO SÉCULO XVIII

Painel oitocentista no Santuário da Senhora das Neves de Lagoa, Aboim

 

A Lenda da Senhora das Neves publicada em 1712 

«É esta Santa Imagem multo antiga, causa porque de sua origem se não sabe nada com certeza, assim do seu aparecimento, como da forma dele mas a tradição, que sempre tem muita força conservada entre a gente daquelas partes, é, que aparecera em aquela mesma serra a uma inocente pastorinha, a qual guardando algumas poucas ovelhas naquele monte a descobrira, & dizem que em hum dia de muita neve, sobre uma árvore a que chamam naquelas partes “Esqualeyro”. Alegre a pastorinha com o achado tesouro, tomou a Santa Imagem da Senhora, e com a sua singeleza a meteu no cabaz, em que costumava recolher o pão, e as massarocas. Com esta rica jóia se recolheu a casa muito alegre, e chamava à Senhora a sua Santinha, e lhe ia fazendo muita festa. Naquela noite sonhou que a Senhora lhe dizia, que no mesmo lugar em que a descobrira, se havia de fazer uma Casa, em que fosse venerada. Despertou com este cuidado, e indo a buscar a Senhora ao cofre das suas jóias, que era a cesta das suas massarocas, a não achou, de que ficou sentidíssima. Para alívio da sua saudade a foi buscar ao monte em o seu costumado exercício, toda sentida, e lacrimosa, de que se pagou muito a Mãe de Deus; porque não só pela sua Imagem, mas ela mesma se dignou de a consolar, dizendo-lhe, Não chores, que cedo me verás todos os dias.

Isto é o que referem os moradores daquele lugar sobre o aparecimento da Senhora, e não sabem dizer mais nada. Poderá bem ser, que a capacidade, pastorinha referisse o sucesso, e que outras pessoas de mais capacidade, à vista de a Senhora fugir, a fossem buscar curiosamente, a que também Deus as moveria, e a descobrissem com algum final, ou se obrariam alguns milagres logo, motivo para que se resolvessem a lhe fazer de empréstimo alguma Ermidinha. Começou logo a mão de Deus a obrar tantos prodígios, que se animaram os seus devotos a lhe fazer depois Casa mais grande, como se vê, que é hum Templo majestoso, e de muita capacidade; e como as maravilhas, e os milagres cresciam, assim se aumentavam mais as esmolas, para que cada vez mais se ampliasse, e adornasse aquela Casa da Senhora.»

Transcrição, com ortografia adaptada, da descrição  feita por Frei Agostinho de Santa Maria na sua obra: "Santuário Mariano e História de Nossa Senhora...", Tomo IV, Lisboa 1712.

 

 


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